domingo, 16 de dezembro de 2007

Desabafo muito longo

Não há dúvida que estou com uma depressão. Sinto-me profundamente triste, apática, sem vontade de nada. Apetece-me isolar-me, ficar no meu canto, não ter que falar nem ver ninguém. Sei que não tenho motivos para estar assim. Tenho um filho lindo que amo como nunca pensei ser possível amar alguém. Tenho um marido que amo e que sei que sente o mesmo por mim, que procura sempre fazer tudo para me ver bem. Profissionalmente encontro-me naquela que considero ser a melhor fase, num percurso que foi sempre muito atribulado.
Não escondo que o facto de achar que o meu filho me rejeita muito tem contribuído para este meu estado de espírito. Sei que estar assim e pensar assim ainda agrava mais o problema, mas a verdade é que não estou a conseguir libertar-me desta teia. Os episódios de depressões são frequentes na minha vida, mas já há algum tempo que não me sentia tão por baixo. Procurei sempre ultrapassar estas fases, tenho sempre uma grande vontade de ficar bem, de me sentir bem. Na minha adolescência sofri de anorexia, numa altura em que ainda não se ouvia falar deste problema como se ouve actualmente. Foram uns anos muito complicados e de uma solidão enorme. Emagreci 20 kg em seis meses, entrei numa grande depressão, era muito nova mas não descansei enquanto não descobri o que se passava comigo. Um dia, numa livraria encontrei um livro que relatava os problemas da adolescência e um dos capítulos fazia uma breve referência à anorexia nervosa. “Identificado” o problema, pedi à minha mãe que me arranjasse uma consulta num psiquiatra e lá fui. Recordo-me do médico me ter dito que era a primeira vez que um paciente chegava ao consultório com o diagnóstico traçado. O resultado não foi o melhor, tomava dezasseis comprimidos por dia que me deixavam a dormir quase 24 horas, continuei a não comer e a depressão não desapareceu. Estive internada durante uma semana e depois mais quinze dias em regime de hospital dia (acho que era esta a designação, ia para lá de manha e regressava a casa à tarde) julgo que foi uma espécie de cura de sono que ao fim ao cabo nada curou.
Rendido, o psiquiatra aconselhou-me a ter consultas com uma psicóloga, e esta foi sem dúvida a melhor opção. Entretanto conheci aquele que é actualmente o meu marido e apaixonei-me perdidamente, foi também por esta altura que entrei para a universidade em Lisboa o que me obrigou a sair de casa e a descobrir o mundo. Esta conjunção de acontecimentos fez com que eu melhorasse, comecei a ganhar peso e a sair da depressão. Não fiquei “curada” da anorexia, ainda hoje lido mal com a alimentação mas julgo isto me irá acompanhar para o resto da vida. Há cerca de dez anos atrás, um pouco após ter terminado o curso, voltei a ter uma enorme depressão. A entrada na realidade do trabalho e o desencanto (para não dizer pior) em relação ao meu curso, em muito contribuíram. Por outro lado, com a minha vinda para Lisboa, interrompi o tratamento com a Psicóloga, quando aquele ainda estava muito no início. Um dia a minha médica ginecologista aconselhou-me a fazer psicoterapia. Segundo ela, e eu sinceramente acredito, as tristezas da alma influenciam a saúde do corpo e talvez estivesse ai a explicação para as infecções urinárias recorrentes, para os cálculos biliares e mais grave ainda, para o carcinoma no colo do útero (que se desenvolveu com uma rapidez enorme). Assim, e mais uma vez na ânsia de me sentir bem, segui o conselho e recorri à psicoterapia, que faço até aos dias de hoje (e já lá vão seis anos). Tem constituído para mim algum esforço financeiro, abdico de algumas coisas para poder continuar a financiar as consultas. Nesta altura, e por mais estranho que pareça, tenho-me questionado se não estará na altura de fazer uma pausa, de tentar por mim, com as ferramentas que lá adquiri, superar as minhas tristezas e angústias. Não sei bem o que faça, não sei se não será uma decisão precipitada numa altura em que não me sinto bem, mas o facto de me questionar precisamente agora, não será um sinal de que este é o momento de parar? Sinceramente não sei o que faça, gostava de ter resultados mais imediatos, gostava de agora não me estar a sentir assim, gostava de estar a desfrutar o meu lindo filho e da maravilhosa experiência que tem sido vê-lo crescer.

10 comentários:

  1. Tu de facto és uma pessoa bastante racional, mais uma vez fizeste o diagnóstico e estás a tentar resolver o problema por ti mesma.

    Nunca tive uma depressão. O mais perto disso que tive afinal era um problema hormonal que foi tratado. Gostava muito de te poder ajudar, mas talvez só já mesmo com o recurso a alguma medicação consigas sentir-te melhor.

    Porque pode ser que essa tendência depressiva tenha razões em acontecimentos passados da tua vida ou então possa ser "apenas" uma questão de desequilíbrio químico.

    Mas seja o que for, não deixes de procurar ajuda. Talvez esteja na altura de mudares de terapeuta ou de mudares ou iniciares alguma medicação, mas apesar da tristeza do tom deste post, dá para perceber o teu pragmatismo e a tua vontade de resolver o problema. E isso já em um bom sinal.

    Beijinho e não desistas.

    http://luzesombra.wordpress.com/

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  2. Eu já tive uma depressão (ou várias?)e na minha opinião não tem nada a ver com o ter ou não motivos no momento actual. No meu caso foi um acumular de situações que eu ia sempre tentando resolver sozinha (como sempre). Fui a uma psiquiatra mais por insistência do Michele porque eu achava que já estava bem. O tratamento fez-me muito bem, gostei muito e muitas vezes apetece-me ir lá falar com ela. Vou um dia desses...
    Quanto á psicoterapia será que essa terapia já não te está a ajudar? Tens sentido alguma evolução ultimamente? Podes ter que mudar de terapia...ao fim destes anos todos pode ter perdido o seu efeito. Não sei se isso costuma acontecer ou se estou aqui a dizer uma grande bacorada :P
    Assim como procuraste tratamento para a tua anorexia procura também para este teu problema.
    Se te puder ajudar em alguma coisa conta comigo!
    Beijinhos

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  3. Hmmm... quando leio estes posts fico sempre angustiada, e impotente porque sei que não te posso ajudar e ninguém o poderá fazer, só mesma. Tu sabes disso. Por isso minha querida luta, luta, luta, esforça-te o mais que conseguires. E nunca penses que o teu esforço é em vão. O que tu precisas é de uma boa dose de auto-estima, tu não acreditas nas tuas qualidades e isso é muito dificil de ultrapassar. mas não impossivel. Apesar de eu ainda não estar bem, e tal como tu tenho um problema que me acompanhará o resto da vida (ataques de pãnico) tenho lutado muito contra esta tendencia de me sentir sempre em baixo, sempre mal, sempre triste e comecei a tentar mudar isso por fora, mesmo estando mal por entro e olha que comigo tem resultado. Deixei de me sentir a pior pessoa do mundo e agarrei-me a quem podia e sabia que gostava de mim tal como sou. O meu filho tambem sempre teve preferencia pelo pai e sabes o que tenho feito? sempre que estou mal sorrio para ele, tento passar o maior tempo possivel com ele, e estou sempre na palhaçada com ele, mesmo que as vezes me sinta ridicula e sem vontade de o fazer. A verdade é que nas ultimas semanas o meu filho tem reaido de uma forma completamente diferente comigo e juro que já não sinto que ele prefira o pai. Consegui aproximar-me dele com muito esforço e muita frustração pelo meio. Vamos ver se se mantém.
    Tens messenger?? se me quiseres adicionar fica aqui o meu contacto

    sofiaquintela@hotmail.com

    ou entao envia-me o teu mail para podermos falar melhor, caso nao tenhas messenger!!

    Beijinhos grandes

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  4. Acho que escreves com uma racionalidade desconcertante sobre o que se passa e passou contigo. E é meio caminho para ultrapassar a depressão. O diagnóstico está feito por ti própria. Sabes o tens, e essencial, porque o tens. Agora, é lutar, não ir abaixo e pensar nesse filho lindo e nas restantes pessoas que te rodeiam que te amam e devem sentir-se incapacitadas para te compreender. É um caminho solitário. Mas vais conseguir...
    Desculpa lá o comentário longo mas percebo-te muito bem.
    Se precisares de alguma coisa, estou À disposição. Porque os estranhos são muito bons conselheiros e ouvintes!!!

    Beijos

    Cristina

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  5. Acho que vou enviar-te um mail. Beijinho

    Luz de Estrelas

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  6. Queria tanto ajudar-te... não deve ser nada fácil.
    Já estive muito em baixo, sempre consciente disso, nunca deixei que a depressão tomasse conta de mim (ou se calhar nem estava sequer nas minhas mãos). Não deixes que ela te vença, te consuma e leve a melhor. Desabafa com quem aches que te pode ajudar, procura ajuda. És forte, inteligente e já deste provas que consegues e agora vais conseguir outra vez.

    Um beijo grande e estou aqui para o que precisares.

    Rakel

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  7. Oi Miga! Também não te posso servir de grande ajuda, pois nunca estive numa situação semelhante, apenas tenho alguns casos perto de mim que só me permitem dizer-te que não deves deixar de falar no assunto!
    O estares muito desperta para o que te está a acontecer já é muito bom, mas deves continuar a procurar ajuda! Se as palavras das tuas amigas blogueiras te servem de alguma coisa... aqui fica todo o meu carinho e desejo de que consigas ultrapassar esta fase mais tristonha e recuperes a alegria de estar viva para o mundo e principalemnte para o teu filhote lindo... porque ele, mais do que tudo, merece ter-te inteira de corpo e alma. Por isso força linda :)
    beijão grande e qualquer coisa é só apitar

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  8. Infelizmente não tenho muito tempo para me alongar mas não queria deixar de te dizer uma coisa que acho importante - e acho que já te tinha dito, embora na altura sem saber que tinhas tido DCA: as crianças em geral auto-regulam-se em matéria de alimentação. Mesmo que às vezes pareçam estar em "greve de fome", como às vezes dizes. Por mais que te custe, não deves projectar para cima dele os teus próprio problemas com a alimentação, sob pena de estares a perpetuar as dificuldades e de poderes estar a "comprar" uma DCA para ele. Provavelmente a psi já to disse e desculpa se me estou "a meter". Mas já reparei que é algo que te preocupa bastante. E quanto mais te preocupa, mais estás a reforçar o comportamento dele que é no fundo direccionado para conseguir obter reacção da tua parte. E por aí adiante, tipo ciclo vicioso. O mesmo em relação a sentires-te rejeitada por ele. Isso deve gerar em ti tais sentimentos que reajes, mesmo sem dar por isso, e levas o teu filho a reforçar o comportamento que levou à reacção e blablabla. E acredita que sei do que estás a falar: a minha filha tem tido grandes atitudes de rejeição em relação a mim, o que em geral me leva a desatar a chorar em dois tempos. Mas, sabes que mais? Quando consigo realmente passar à frente, em dois tempos ela vem ter comigo, pega-me pela mão, desafia-me prà bnrincadeira e até me dá abracinhos...
    Em relação à possibilidade de deixares a terapia, não me vou pronunciar, nem me ficaria bem, mas tenho uma sugestão: já experimentaste o yoga? Não há prozac que lhe chegue aos pés...
    um beijo grande e arrebita (diz o roto ao nu...)

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  9. Querida, parece-me, pelas tuas palavras, que não é a melhor altura para deixares a terapia. Porque não o fazes numa altura em que te sintas completamente bem?
    De toda a angústia que perpassa do teu post, o melhor sinal é questionares o teu estado, é teres consciêcia das coisas que se estão a passar contigo. Se sabes, vais, com certeza, conseguir ultrapassar mais esta fase difícil da tua vida. É claro que vais!
    Um bjinho cheio de força.

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  10. Como hoje já é dia 20, 5ª feira, doute os PARABÉNS! A ti e ao teu baixinho. Chuac Chuac!

    E quanto este post querida, penso que o melhor é falares com a tua psic. e dizeres-lhe isto mesmo, que te sentes deprimida e que pensas parar, logo vês o que ela te dirá, se está na hora ou não de fazeres alguma medicação ligeira, que te ajude neste momento.
    Sei que o Parque de saúde de Lisboa, antigo Júlio de Matos tem agora umas consultas externas com uma equipa de vários especialistas do 'comportamento', não só psicólogos e psiquiatras, mas também endocrinologistas e nutricionistas. Tenho uma amiga que deprimia muito e numa análise ficou a saber que o corpo era incapaz de tratar o lítio (sal estrutural) como devia, e que isso a fazia deprimir. Tenho outra que descobriu que não fazia a vitamina B12 e que isso lhe provocava alterações 'estranhas'. Foi lá que elas perceberam isso, com o médico endocrinologista e o psicólogo. Acho que não se paga como particular, mas creio que a 1ª consulta demora bastante para se conseguir, coisa de 2 ou 3 meses.
    Depois há um conjunto de coisas como tens percebido e bem ao longo dos anos que fazes terapia, e que se nota bem o quanto tu te esforças para saber como funcionam as coisas. Falta só um bocadinho, talvez mais de auto-estima, talvez mais optimismo, que encontras com ajuda especializada, porque inteligente já tu és.
    Um beijo grande neste dia tão especial!
    (O Ben faz 3 precisamente daqui a 10 dias, dia 30. Beijinho)

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