quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Da estadia I

Da semana que passei no hospital houve varias coisas que me marcaram, para além, como é óbvio, da aflição de ter o meu filho doente e internado. Em primeiro lugar a desgraça em que se encontra a nossa saúde e em particular os hospitais públicos, a solidariedade materna, se assim se pode chamar à entreajuda que se estabelece entre as mães, a sobrecarga que as mães sofrem nestas situações, comparativamente aos pais, a forma como as pessoas de menos posses são tratadas, etc. etc. etc.
Poderia aqui enumerar uma série de situações que presenciei mas vou apenas relatar algumas situações que considerei mais marcantes.
Quando cheguei às urgências o cenário era horrendo, a sala de espera estava atolada de pessoas, não havendo cadeiras para todos os que ali se encontravam. Foi o meu caso, e depois de quase três horas de espera, comecei a desesperar, por um lado estava tremendamente preocupada com o facto do meu filho estar sem comer há muitas horas, e por outro lado estava com uma vontade imensa de ir à casa de banho. Não me contive e desatei a chorar, de imediato uma mãe se aproximou de mim, acho que não lhe disse nada e continuei num pranto incontrolável. Passado um pouco um senhor de etnia cigana veio ter comigo, e chamou-me a atenção para o facto de crianças que tinham chegado depois de mim já terem sido chamadas. Decidi entrar e perguntar o que se passava, e quando disse o nome do meu filho, ouço uma médica, espanhola, a gritar de dentro do gabinete que já tinha chamado o João uma serie de vezes. Não sei se chamou ou não, a verdade é que não ouvi. Assim que lhe digo que o meu filho estava sem comer há mais de 8 horas, olhou para mim com o ar de " mas que raio de mãe é esta que não trás comida para o filho?"
Senti-me terrivelmente mal, mas expliquei-lhe que tinha saído de casa convencida que voltaria passado pouco tempo e que antes de sair do Centro de Saúde tinha questionado a médica se não seria melhor ir a casa dar de comer ao João e depois seguir para o hospital, tendo ela respondido que estando com febre o bebé não teria vontade de comer.
Depois do RX, das análises e de terem colocado a tala e o cateter no João, fomos instalados na sala de observações das urgências. Aqui encontravam-se duas mães e as respectivas filhas, uma bebé de 2 anos que tinha tido uma convulsão (com 38,6 graus o que me deixou surpreendida) e uma criança de cerca de sete anos com um infecção urinária. Para meu azar a cama que coube ao João não tinha grades, o que me impedia de o deixar sozinho por um segundo, de modo a poder comer qualquer coisa ou mesmo de ir à casa de banho. Quando as senhoras se aperceberam que eu estava sozinha, ofereceram-se de imediato para tomar conta do meu filho enquanto eu me ausentava. Foram de uma simpatia e disponibilidade enorme e não sei como é que faria se eles não estivessem ali. A mãe da menina da convulsão foi-se embora por volta das sete da manhã, a outra ficou comigo o resto do dia de terça e acabou por ficar internada com a filha até sábado. Todos os dias nos visitávamos uma a outra, conversávamos um pouco, mas principalmente lamentávamos-nos por os nossos filhos ainda ali estarem.
(É tarde e amanhã tenho que madrugar, retomo, se puder, amanhã)

6 comentários:

  1. Acreditas que não me senti assim quando estive com o Rodrigo internado? não me senti no meio de nenhuma desgraça. apesar das péssimas condições do hospital. Mas também tinha o meu pequenino numa cama de grades mas nao o podia deixar sozinho porque tinha tubos agarrados a ele de maneira que tinha de estar sempre alguem com el não fosse ele a puxar os tubos. Mas eu quando ele dormia ia tratar e mim e também tive muito o apoio do marco, é verdade, ele não foi trabalhar nenhum dos dias em que o nosso filho esteve internado.E das 8 noites que ficamos lá duas dormiu o meu marido com o Rorigo porque eu já estava podre de cansaço. Mas se queres saber nao tenho internamento como uma má experiencia, talvez porque ele nao tenha ido com febres nem com nenhum doença subita. Apesar de ser uma operação, ia marcada e sabiamos ao qie iamos. Não te digo nao custou, é claro que custou, mas nao a tenho como uma má lembrança. às vezes até dou por mim a lembrar-me de momentos bons, sabes??? as enferemeiras umas queridas, as mães das camas ao lado, as visitas etc...

    ResponderEliminar
  2. É verdade Mariah, disseste bem, a desgraça do sistema de saúde público em Portugal, especialmente nas urgências pediátricas.
    À conta disso, o pai do Benjamim que é bastante calmo e sereno, faz da formação profissional a sua profissão, foi obrigado a perguntar a um agente hopitalar central se 'aquilo' era um hospital veterinário, só para tu veres a dificuldade que há, não só em meios mas ao nível da própria relação, que mais parece psicótica, com um profundo corte com a realidade, especialmente com crianças e pais.

    Enfim, já passou. Folgo muito que o teu menino esteja em franca recuperação.
    (não tenho tido tempo para escrever, mas tenho-te acompanhado)
    Um beijo e um xi coração.

    ResponderEliminar
  3. Fico feliz que seu bebê esteja se recuperando!
    Um beijo, saúde e felicidade para todos!
    Fiquem com Deus!
    Giovana e Lucca

    ResponderEliminar
  4. Nem quero pensar em tal cenário!! Mas sei perfeitamente que é o cenário real que temos :( Como é possível isto ainda ser assim em Portugal... o país da Expo98 e dos futebois!!! É por estas merdas (e desculpa o termo) que digo que este país é de puras aparências! Os governantes preferem enterrar o nosso dinheiro em 10 estádios novos que estão vazios... do que em remodelar... simplesmente remodelar hospitais!! É uma vergonha!! Mas é mesmo este o país que temos... um país de aparências!!
    beijos linda... e ainda bem que o João já está melhor

    ResponderEliminar
  5. Se quizer ser sincera não senti nada disso quando a Madalena esteve internada num hospital publico. Provavelmente tive sorte, porque fui atendida rápidamente e senti sempre um grande acompanhamento por parte das enfermeiras e dos médicos.
    Mas conheço muita gente com o mesmo tipo de queixas :(

    Ainda bem que isso tudo já passou e que voltaram a vossa rotina ;)

    Conta o resto quando poderes.

    Beijinhos

    ResponderEliminar
  6. Impressionante o estado da Saúde no nosso país.
    Não me canso de gabar a tua coragem e ainda bem que tiveste lá outras mães para te dar uma mão.

    Fico muito contente que ele já esteja melhor.

    Beijinho grande

    ResponderEliminar