quinta-feira, 22 de março de 2012

Psicologias de bolso II

Eu tenho um defeito, aliás vários, mas há um em particular que de vez em quando me traz alguns dissabores. E apesar de ter isso presente, sem me aperceber, lá me deixo levar. Quando me sinto à vontade com alguém, começo a ser desbocada, não no sentido de dizer tudo o que me vem à cabeça, que nisso até sou bem contida, mas no sentido de falar sobre a minha vida. E se quem me ouve for meu amigo, ou for bem intencionado, não vem problema nenhum daí. Mas quando isso não acontece (a maioria das vezes, se calhar), aparecem logo os aproveitadores, ou sei lá como lhes chamar, aquelas pessoas que agarram no que ouvem e tratam de imediato de fazer juízos de valor, extrapolações, ou como lhe chamei no post abaixo, psicologia de bolso. E não são raras as vezes que descortino no que me dizem, “vestígios” do que ouviram, alusões subtis, mas que eu, que não me considero burra, relaciono logo com o que sei que, desbocadamente, contei. E nessas alturas fico furiosa, irritada comigo por não ter sido cuidadosa.

Sempre que vou buscar o meu filho à escola, converso um pouco com a educadora dele. A maioria das vezes sobre como lhe correu o dia. Há uns tempos atrás, ele falou-me que o João andava um choramingas, que sempre que o reprendiam ou o contrariavam ele choramingava. Eu, parvalhona, contei-lhe que quando era mais nova era assim, bastava um professor me chamar a atenção para alguma coisa, que eu, de imediato desatava num pranto. Quando outra vez, ela se referiu a alguma insegurança, ou baixa auto estima do João eu, parvalhona, dissertei sobre o facto de, também eu, ter tido alguns problemas de auto estima na minha infância (mas atenção, que o meu discurso nunca foi no sentido de estabelecer qualquer relação genética, o meu filho não é igual a mim ou ao pai, com certeza que herdou algumas características nossas, mas isso não torna, evidentemente, igual a nós). Bem. mas resumindo, que isto já vai longo, ontem lá veio mais uma converseta de avaliação psicológica. Um dia depois da malfadada festa do pai, em que o meu marido não conseguiu disfarçar o desconforto e o desagrado pelos jogos em que foi "obrigado" a participar, pois que o João tem problemas com tudo o que é novo e diferente, não gosta de participar em atividades novas, tem medo de falhar, que deveríamos sair mais com ele, uma vez que ele não tem cá primos e irmãos, para que convivesse com outros meninos, porque senão vai ser muito complicado ele adaptar-se na escola primária. Mas o que é isto? Fui tão apanhada de surpresa que não tive reação, mas claro que vim para casa remoer, e remoí tanto, que nem dormi nada de jeito. Para mim não há coincidências, a mãe era chorona, o João é um choramingas, a mãe teve problemas de autoestima, o João tem problemas de auto estima, o pai ficou muito nervoso e notava-se o desconforto enquanto fazia os jogos (unicamente porque detesta aquele tipo de jogos), pois que o João receia tudo o que é novo e diferente. Ora como não concordo com grande parte disto, e como não gosto de rótulos (muito menos rótulos no meu filho), logo vou ter que ter uma conversa muito séria.

5 comentários:

  1. :( agora não posso comentar.. a ver se venho cá depoius!

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  2. Como mãe tb não gosto de ver o meu filho e a minha familia a ser "analisada" na escola, mas sei que tal acontece!
    A vida em sociedade é mesmo assim!

    Tens razão! temos um bocado a mania de opinar sobre a vida dos outros!! é defeito profissional!!! há sempre um psicologo dentro de nós, e claro que nós professores adoramos psicanalisar os nossos alunos... fazemos comparações com os pais! é normal!
    há a personalidade de cada um, mas o nosso ambiente também nos molda, por isso é mais fácil para a educadora fazer esse tipo de elações! acho que não o faz por maldade, percebes?! é uma maneira dela tenatr perceber melhor o teu filho...
    sem quere podemos às vezes concluir coisas erradas!!
    Eu faço isso, como diretora de turma, psicanaliso os miudos, mas não digo o que penso aos pais... só dou opinião se ME pedirem! não dou dicas, nem faço juizos se não me for pedido pelo Encarregado de Educação. Atenção que só o faço se acho que posso melhorar alguma coisa, ou dar uma perspetiva diferente dos miudos aos pais (eles não são iguais em casa e na escola, sabes disso!!!)
    Essa educadora fez um juizo xom a pouca informação que possui sobre os pais!!! pecou aí! opinou sem lhe pedirem! E isso magoou-te!

    bjs

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  3. Eu acho que na escola do T não devem gostar muito de nós (pais), quer dizer, imagino, porque chegamos atrasados e não somos de grandes conversas. Talvez por isso mesmo me tenha surpreendido tanto a avaliação que veio esta semana. Costumo dizer que quando os miúdos fazem alguma coisa que os outros consideram positivo, diz-se logo que os pais têm muita sorte, e quando eles se portam mal ou têm um comportamento que não se enquadra, dizem logo que a culpa é dos pais.
    Tens razão, todos se julgam com direito a opinar sobre todos e há uma grande falta de respeito pela individualidade de cada um. Cada criança é como é e tem direito a ser mais assim ou assado. Estou também muito farta da padronização a que nos querem impor.

    Ele é feliz lá, Mariah? Penso que aí tens a tua resposta.

    Beijos e saudades

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  4. Raquel, eu sei que isso acontece nas escolas, a minha irmã e marido são professores (em níveis diferentes) e eles próprios falam dos alunos. Neste caso foi uma questão de timing, depois da festa do pai vieram as análises e sim magoou-me, se calhar pelo tom com com foram ditas, mas se calhar também porque me preocupo com o meu filho.

    M. acho que sim que ele é feliz lá, às vezes noto-lhe algum cansaço em relação á escola mas isso acho que é normal. Lá também acho que não gostam lá muito de nós(pais):)

    Obrigado pelos comentários, por vezes sabe ouvir ouvir outras perspectivas.

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  5. Elas fazem sempre isso. Tentam analisar a criança através dos pais, esquecendo que tb eles são únicos. Para a próxima, partilha sobre ele, mas não sobre vocês. Também já aprendi a conter-me para n provocar julgamentos fora de contexto.

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