terça-feira, 25 de março de 2008

Ímpetos burgueses

Assumo que sou... de esquerda, ou melhor (que isto de ser de esquerda ou de direita, nos dias de hoje não faz muito sentido) sou defensora da existência de um Estado justo (lol) que garanta que todas as pessoas, independentemente da sua raça, credo ou posição social tenham igual acesso aos bens considerados básicos assim como aos serviços de saúde sem esquecer a educação. Vem esta lenga a lenga a propósito da minha ida ao, ainda recente, hospital da Luz (fazendo uso do meu burguês seguro de saúde). Assim que lá cheguei não consegui evitar um abrir de boca de espanto ao deparar-me com aquelas luxuosas e confortáveis instalações. Sala de espera espaçosa, gabinetes médicos bem decorados, o pormenor das macas (não sei se é este o termo certo) onde as crianças são observadas com a forma de animais, etc. etc. etc. Claro que, de imediato comecei a comparar com o hospital publico onde o meu filho esteve internado, salas de espera apinhadas de gente, sem assentos suficientes para todos, médicos mal encarados, auxiliares e enfermeiras enfadadas, enfim o oposto. Às tantas comento com o meu marido que aquilo sim, é um hospital decente e ele, que ainda é pior do que eu nas suas convicções, de imediato trava os meus ímpetos burgueses: que no hospital publico o que há é falta de condições, que existe a ideia enraíza de que quem lá vai não merece melhor, que os médicos e restante pessoal hospitalar acabam adoptar esse pensamento e que por não terem condições acabam por trabalhar desmotivados e que tudo não passa de uma campanha para acabar com o serviço público de saúde. Pois...

8 comentários:

  1. Talvez. O que me incomoda é que os médicos por vezes desistem e aceitam os seus limites. Não podem sacrificar-se diariamente por um sistema castrador e deliberadamente empobrecido. Desistem de abdicar da sua vida pessoal, dos filhos que crescem longe dos olhos deles, e passam a fazer o básico, sem dar mais do que aquilo a que são obrigados. E a descrença espalha-se. Por vezes parecem feitos de pedra. Eles e todo o pessoal. Humilham-nos quando choramos de preocupação ou quando reclamamos um atendimento melhor ou quando temos nos braços as nossas relíquias maiores durante seis e sete horas sem que ninguém se preocupe em salvá-las. Dá medo. Mas às vezes sei e sinto que muitos dão o seu melhor dte anos por um sistema que não os trata melhor por isso. Perde-se a humanidade. Por isso tb tenho seguro. E é assustador ver que os profissionais

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  2. muitas vezes são os mesmos, no público e no privado. Tratando-nos muito melhor, com simpatia, prontidão e delicadeza. Concluo que quanto melhor os tratam a eles melhor eles nos tratam a nós. Luz

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  3. Eu acho que a Luz disse tudo...Eu também tenho seguro, da última vez que recorri ao SNS a médica medicou-me mal e neste momento tenho psoríase em zonas do corpo onde nunca antes tinha tido :( E não posso fazer nada porque não posso provar que a avisei que tenho psoríase :((( Nesse dia decidi fazer um seguro de saúde para mim também, a Isabella já tinha.

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  4. Olha, depois do que a Luz escreveu, acho que não há mais a dizer, concordo com cada palavra.

    Beijinhos

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  5. É muito triste constatar que o dinheiro tudo compra. Eu já fui atendida pelo mesmo médico num hospital público e num privado e a diferença foi abismal.

    Dá a sensação que se tivermos dinheiro suficiente para pagar um seguro de saúde temos também mais importância, mas estatuto e logo mais direito a ser melhor tratados.

    E claro que não se deve generalizar, que há médicos bons e maus em todo o lado, mas é notório que os médicos também sofrem da mentalidadezinha portuguesa de que quem tem dinheiro deve ser melhor tratado.

    Porque não há desculpa para certas situações que se vivem nos hospitais públicos.

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  6. O problema, muitas vezes, é a diferença nos honorários. O sistema púbico paga muito mal e dá poucas condições. quem lá trabalha tem de lutar contra muitos contratempos. Infelizmente prevejo que os serviços privados de saúde tenham cada vez mais peso, deixando o serviço público numa situação complicada. Espero que nunca cheguemos a situações como a que existe por exemplo nos estados unidos - quem não tem dinheiro para um seguro de saúde vê-se em muitos maus lençois.

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  7. Eu não tenho seguro de saúde, mas tenho-me questionado se devo ou não ter um. Sempre que preciso abro os cordões à bolsa e pago do meu bolso um acesso burguês à saúde, sobretudo para o meu filho. Mas acredito que no público é onde se encontram os melhores meios. O meu filho nasceu num hospital público e foi muitíssimo bem atendido (já eu no parto não sei se fui). Mas concordo tanto com o teu marido Mariah... Como diz a Maria Pereira, tenho um medo horrível de um dia ter uma situação igual à dos EUA. Continuo a achar que a saúde e a educação deveriam ser bens da melhor qualidade, oferecidos pelo estado, porque todos os meses pagámos por eles. Desculpa o discurso.

    Beijos

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  8. Parece que nesses hospitais tipo o da Luz os médicos são escolhidos a dedo e as condições de trabalho são óptimas. Depois há uma coisa que é avaliação...

    Devia ser tudo assim... digo eu.

    O Benjamim foi operado em Fevereiro num hospital público. Ontem telefonou-me uma funcionária administrativa do hospital dizendo que 'era para marcar um exame esofágico' ao Benjamim (quando ele foi operado ao... umbigo). Assim, tal e qual. Repetiu e bateu o pé a despachar. Só se acalmou quando eu lhe disse que o mínimo que eu ia fazer era uma queixa crime contra o Estado português, começando no médico que prescreveu e que ela não reconhecia a assinatura e acabando nela!
    Aí ela calou-se, para me ouvir. Deve ter ficado curiosa.
    ;)
    Beijinho

    Ps. esquece lá isso da serotonina e anima-te! Tens um sorriso lindo e doce!:)

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