sexta-feira, 21 de setembro de 2007

A minha mãe

Ontem levei a minha mãe, de regresso a casa, à estação de comboios. Despedi-me dela, e fiquei a vê-la afastar-se. Reparei no seu andar, já não tão firme como noutros tempos, as costas ligeiramente curvadas, e pela primeira vez dei-me conta que a minha mãe está a envelhecer. Sempre neguei o passar dos anos nela. Recordo-me que a partir de determinada altura quando andava na escola (antigo ciclo preparatório), sempre que preenchia as fichas informativas, colocava como idade da mãe, 40 anos, e daí não passava. Era como se a quisesse eternizar para sempre, garantir que ela nunca envelhecesse. Lido mal com o passar dos anos, quer sejam os meus, quer sejam dos que eu amo, sempre foi assim.

Sempre fomos muito ligadas, às vezes acho que demais, um pai ausente, dominador, para quem os afectos sempre foram coisa de mulheres, levaram a que nos uníssemos muito, eu a minha irmã e ela.

Só agora me apercebo, não sei se por ter sido mãe, na dor que deve ter sentido quando, de repente, e quase ao mesmo tempo, as suas duas filhas largam o ninho e nunca mais voltam. Sei que ela sofreu, sei que me custou, mas na altura a necessidade que tinha de respirar, de me libertar, era muito forte, tinha mesmo de ser.

Quando fiquei grávida, a pessoa a quem eu tive receio de anunciar foi a minha mãe. Tinha medo que ela achasse que ao ser mãe me iria afastar ainda mais. Uma tontice claro, ela adora o João e sinto-a tão feliz no papel de avó, como nunca a tinha sentido.

Hoje, apesar de eu já ter 36 e da minha irmã quase 40, continuamos a ser as suas miúdas, tenta proteger-nos de todos os males do mundo, quer-nos bem sempre, de uma forma quase obsessiva, vive as nossas tristezas, os nossos cansaços, as nossas alegrias e esquece-se dela própria. Isto apesar de estarmos afastadas por quase 300 Km.

A verdade é que não consigo aceitar o facto, de que um dia ela vai deixar de estar entre nós.

12 comentários:

  1. Até mesmo nas relações mais conturbadas, há essa ligação, esse elo. Quem quer viver a mãe? Eu não quero. Como se consegue? Não sei. Talvez acreditando no reencontro.

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  2. "Quem quer viver sem a amãe?". É o que dá escreveres assim posts emocionantes. Fico logo toda desbaratinada.

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  3. É isso mesmo Luz, acreditando no reencontro, mas eu sinceramente tenho alguma dificuldade. Sabes às vezes julgo que um pouco de fé não me fazia mal.
    Beijos

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  4. Já agora, emocionanate e muito belo, é o teu post "Luz".

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  5. Aiii minha querida Maria expressaste tão bem aquilo que eu sinto. Este post poderia ter sido escrito por mim, tal e qual sem tirar nem pôr. Também eu tenho uma irmã mais velha, e tive um pai dominador, tal e qual, e sempre nos unimos muito as tres.

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  6. E porque está a tua mãe tão longe de ti, 300 quilometros??? a minha está a 15 minutos de mim, graças a Deus, mas em contrapartida tenho a minha irmã noutro país... e não ei o que será mais duro... e a tua mana, ao menos está mais pertinho de ti???

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  7. Apesar de cada uma ter ido estudar para cidades diferentes (eu, lisboa, ela, coimbra), não descansámos enquanto não nos aproximamos. Parecemos irmãs gémeas!!

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  8. A minha mãe foi o meu primeiro amor e também, a par com o mau pai, a minha primeira desilusão, mas apesar de tudo somos muito próximas e falamos diariamente, mesmo vivendo um bocado afastadas. Acho que sempre me senti como sendo a mãe dela. Também não consigo imaginar o dia em que ela morrer.

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  9. Também me emocionei a ler-te porque infelizmente já não tenho a minha mãe fisicamente comigo mas tenho a certeza que algures ela nos está a ver e está felicíssima com a neta que não lhe pude dar em vida.
    Aproveita bem todos os momentos com a tua mãe não antecipes a dor que é imensa.
    Beijinhos

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  10. Também me custa tanto ver que a minha mãe está a envelhecer e que mesmo que não dê parte fraca já sente muitas limitações fisicas devidas aos inumeros problemas de coluna/ossos que tem. Nem quero imaginar a vida sem ela.

    Mto bonito o teu post e irradia a ternura que sentes por ela

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